quarta-feira, 8 de janeiro de 2003

Nada como soltar os cachorros, para esfriar a cabeça... Obrigado a quem leu o post anterior (ou vai ler, já que a ordem desse troço é inversa).

Vou nomear meus leitores meus terapeutas oficiais. Tudo vai melhorar, depois que eu mergulhar no Arpoador, amanhã.

Depois de um longo e tenebroso inverno, cá estou eu.

Inverno? Que inverno? Acho que eu devia dizer inferno. Onde já se viu? Quem precisa de 40º C de calor? Quem precisa de chuva que só deixa o tempo mais abafado? E que, de quebra, alaga a minha rua?

Aliás, quem precisa de tanta garrafa PET, que fica aparecendo na areia, depois? O mar, eu sei que não precisa. Gente imunda!

Quem precisa ficar suando pelas ruas do Centro? Olhar em volta e ver um bando de gente brilhando e nenhum deles é elfo!

É verdade, estou mal humorado. E daí?

sexta-feira, 3 de janeiro de 2003

Lá fui eu assistir à reapresentação de O Grande Ditador, de Charles Chaplin. Cineminha, escurim, com a namorada. Nada de melhor. Não resisti. Tive que buscar e copiar o discurso final aqui no blog.

É um apaixonado discurso sobre os perigos de se impor a razão fria sobre as emoções. Sobre aquilo de que se compõe não o homem, mas a humanidade.

Ficou em inglês, mesmo. Se fosse em japonês eu manteria em japonês. Quem achar que deve ser traduzido, é só pedir nos comentários. Eu faço a tradução e publico. De todo jeito, leia com atenção.

The Jewish Barber: I'm sorry but I don't want to be an emperor. That's not my business. I don't want to rule or conquer anyone. I should like to help everyone if possible; Jew, Gentile, black men, white. We all want to help one another. Human beings are like that. We want to live by each others' happiness, not by each other's misery. We don't want to hate and despise one another. In this world there is room for everyone. And the good earth is rich and can provide for everyone. The way of life can be free and beautiful, but we have lost the way. Greed has poisoned men's souls; has barricaded the world with hate; has goose-stepped us into misery and bloodshed. We have developed speed, but we have shut ourselves in. Machinery that gives abundance has left us in want. Our knowledge as made us cynical; our cleverness, hard and unkind. We think too much and feel too little. More than machinery we need humanity. More than cleverness, we need kindness and gentleness. Without these qualities, life will be violent and all will be lost. The aeroplane and the radio have brought us closer together. The very nature of these things cries out for the goodness in man; cries out for universal brotherhood; for the unity of us all. Even now my voice is reaching millions throughout the world, millions of despairing men, women, and little children, victims of a system that makes men torture and imprison innocent people. To those who can hear me, I say "Do not despair." The misery that has come upon us is but the passing of greed, the bitterness of men who fear the way of human progress. The hate of men will pass, and dictators die, and the power they took from the people will return to the people. And so long as men die, liberty will never perish.
(In a passionate raging voice now)
Soldiers! Don't give yourselves to these brutes who despise you, enslave you; who regiment your lives, tell you what to do, what to think and what to feel! Who drill you, diet you, treat you like cattle and use you as cannon fodder! Don't give yourselves to these unnatural men---machine men with machine minds and machine hearts! You are not machines! You are men! With the love of humanity in your hearts! Don't hate! Only the unloved hate; the unloved and the unnatural. Soldiers! Don't fight for slavery! Fight for liberty! In the seventeenth chapter of St. Luke, it is written that the kingdom of God is within man, not one man nor a group of men, but in all men! In you! You, the people, have the power, the power to create machines, the power to create happiness! You, the people, have the power to make this life free and beautiful, to make this life a wonderful adventure. Then in the name of democracy, let us use that power. Let us all unite. Let us fight for a new world, a decent world that will give men a chance to work, that will give youth a future and old age a security. By the promise of these things, brutes have risen to power. But they lie! They do not fulfil that promise. They never will! Dictators free themselves but they enslave the people! Now let us fight to free the world! To do away with national barriers! To do away with greed, with hate and intolerance! Let us fight for a world of reason, a world where science and progress will lead to the happiness of us all. Soldiers, in the name of democracy, let us unite!
(Here, Chaplin pauses, seeming to gather himself, and the picture soon fades out to a scene of refugee Hannah (Paulette Goddard) with her family in a peaceful field, seemingly hearing his words.)
Hannah, can you hear me? Wherever you are, look up! Look up, Hannah! The clouds are lifting! The sun is breaking through! We are coming out of the darkness into the light! We are coming into a new world; a kinder world, where men will rise above their greed, their hate and their brutality. Look up, Hannah! The soul of man has been given wings and at last he is beginning to fly. He is flying into the rainbow! Into the light of hope! Look up, Hannah! Look up!

domingo, 29 de dezembro de 2002

Hoje, eu estou prolixo. É o que dá não me deixarem dormir...

Acabo de criar um novo link no meu blog. É para o blog do Quintino. Eu já venho lendo esse blog faz um tempo. Acontece que ele é o melhor amigo da Estela. Como eu não o conhecia, ainda, seria uma enorme buchice linkar o blog do cara, parecendo que estava tentando uma política de boas vizinhanças.

Agora, conheci o sujeito. É gente boa. Portanto, façam uma visitinha. Ele não escreve muito, mas vale esperar pelas novidades.

Aos cinéfilos, a dica: o melhor filme de terror que eu já vi foi A Espinha do Diabo (El Espinazo del Diablo - Espanha, 2001). Está rolando no Telecine, agora. Eu, que não gosto do gênero, acho este filme imperdível.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2002

Isso aí. Estou de volta, depois de uma generosa visita de Papai Noel.

Quintino tem me desmoralizado. Pô! Que vacilo...

terça-feira, 24 de dezembro de 2002

Imagina que você tem um daqueles quebra-cabeças de 8 mil peças. Aí, você monta 4 mil de um lado. Ao mesmo tempo, monta 4 mil de outro. Você terá dois grandes quebra-cabeças, um de cada lado.

Agora, imagine que você junta as duas partes/metades do quebra-cabeça, encaixando peça por peça, ao longo da vertical dele.

Se você for capaz de imaginar isso, é capaz de imaginar aquilo que somos eu e Estela.

Minha namorada acha que o céu é um sofá bem grande. Eu discordo. Acho que é um chão, pra gente se espichar. Em cima do chão, tem um sonzinho, pra gente escutar.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

Pedro vai cortar o cabelo

Esbaforido, eu passo em frente a um salão e vejo que ele está 25% mais barato que os outros em volta. Meu cabelo é ruim, então o corte também pode ser ruim, certo? Acontece que eu estava morrendo de pressa. Então, entro e peço para reservar um horário. A atendente responde que tem como fazer na hora. "Mesmo? Eu tenho que estar livre em meia hora", eu me certifico. "Claro, senhor", é a resposta.

Lá vou eu. Sento numa das cadeiras e espero vir o sujeito que vai encurtar meus pelos. É uma loiraça, de 1,80m de altura. Olha para mim e diz para acompanhá-la, para lavar o cabelo. Eu tremi nas bases. Eu sempre durmo nessa parte. Mexer na minha cabeça é me fazer dormir. Eu já dormi com um negão 3x4 lavando meu cabelo no salão ali do lado. Já até dormi na cadeira do dentista! Sim, mexer em q.u.a.l.q.u.e.r parte da minha cabeça me dá sono. Imagina se fosse aquela loira. O que ela ia pensar de mim? Eu tenho namorada, ora!

Aliás, assim que bati os olhos nela, percebi que tínhamos algo em comum: as raízes negras. E lá deitei eu naquela espécie de pia que eles têm nos salões. "Água fria, morna ou quente?". Naquele calorão, sempre gelada! É bom, que refresca a cabeça e as idéias. Vai molhando o cabelo. Ela enche a mão de xampu e começa a passar pela minha cabeça. Que tristeza. O pior cafuné do planeta. Acho que ela não gostava de cabelo, sei lá. Sei que foi a primeira vez na vida em que eu nem bocejei lavando a cabeça. Sim, eu bocejo até quando sou eu mesmo lavando a minha cabeça.

Já não se fazem mais loiraças como antigamente. Inda bem que eu tenho a minha morena. Aquilo sim é cafuné.

Importante lembrar: se você gosta de algum dos posts, se não gosta, se discorda, se concorda, se nada, muito pelo contrário, se você é apático, se é simpático, antipático, ou hepático, se acha que sim, se acha que não, se acha que depende, ou não acha, se isso, se aquilo,

COMENTE!!!!!!!

Ao Villas-Boas

Quem me conheceu no início do curso de Direito, sabia que o que eu mais queria fazer, naquela época, era diplomacia. Por causa dessa intenção, eu conheci uns nomes desde cedo. Esta semana, dois desses nomes partiram para o Oriente Eterno. Um foi Evandro Lins e Silva, antecedido por Orlando Villas-Boas. Ambos tinham muito a ensinar ao mundo da diplomacia. Curiosamente, cada um em um ângulo simetricamente oposto ao outro.

Os que me conhecem atualmente, sabem que eu sou um estudante de Direito muito relapso. Então, não vou fingir que estou mais comovido com Lins e Silva que com Villas-Boas. Quem quiser saber mais sobre Lins e Silva, pode ler um interessantíssimo artigo no blog da Estela. Eu sinto muito mais saudades de Orlando Villas-Boas.

Orlando e seu irmão, Claudio, decidiram lançar os braços da diplomacia para um país muito mais interessante do que qualquer outro: aquele onde nasceram. Decidiram lançar-se ao interior, buscando comunicação com gente que não falava nenhum idioma conhecido nas geografias de Henfil: o sulmaravilha e a Caatinga. Ou algum leitor saber responder à pergunta: nhe'enga Tupi? Pois eles sabiam. E decidiram aprender muito mais do que isso.

Decidiram levar aos povos isolados do Mato Grosso e da Amazônia as comodidades do mundo branco. Decidiram trazer aos mundo branco o universo que existia em sua própria esquina. Uma tarefa nada simples.

Tempos atrás, eu iniciei uma difícil pesquisa sobre a mitologia indígena brasileira pré-cabrália. Precisei de um livro de Orlando Villas-Boas. Fiquei maravilhado com a escrita. Ele possuía um estilo muito próprio. Era erudito, ao mesmo tempo que claro. Inteligente, ao mesmo tempo que direto. Não era redação de quem havia vivido a vida inteira no mato, comendo cobras com os nativos. Nem era literatura acadêmica, de quem havia passado a vida inteira trancado numa biblioteca, vendo índios pelas fotos do Mal. Rondon. Não. Era linguagem de quem tinha que se comunicar, a todo custo.

Recomendo a todos os meus leitores algum livro de Orlando Villas-Boas. Quem quer que queira saber o que é comunicação deve saber escrever e falar como ele. Esqueçam Chatô, nem pensem em Abelardo Barbosa. O maior comunicador que já pude encontrar faleceu faz menos tempo que isso. E também o grande diplomata. Não vejo glória maior que estabelecer embaixadas onde ninguém faz comércio, onde não há interesse no lucro. Só no Brasil.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

Então, eu não posso me dar uma semana de namorico e folga que a trupe vem pedir para eu voltar a escrever? O que é isso? Estão querendo encher a minha bola! Tem até gente da caatinga me mandando e-mail, cobrando notícias. Tem gente do sulmaravilha que veio dizer que o meu blog era o mais inteligente de um oceano. Claro! Peixe não bloga! E a razão para isso é simples: eles não têm polegares opositores. Se tivessem, garanto que qualquer celacanto teria mais a dizer que eu.

Vai ver se eu tenho blog com nome em latim; vai ver se eu escrevo estrelismos por aí. Ou se sou um poeta, co-autor do meu próprio blog. Que nada. Isso não acontece por aqui. Sou só um cara que decide escrever esporadicamente. Só se der na telha. Ainda se tivesse coisa inteligente a dizer...

Então, turma, não desanimem. Sejam pacientes. Sempre que eu tiver uma dor de cabeça e disso surgir algo brilhante, eu escrevo!

Dica da semana: sua coluna será muito mais sua amiga se você não tirar a sesta no ônibus.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

Hoje foi dia de comprar presente de aniversário para a sogra. Comprei nada, já que fui proibido de sequer mandar um beijo de parabéns. Só fiz dar pitaco. Espero que os créditos sejam dados apenas na hipótese de ter sido um bom presente!

Quem não gosta de Ferreira Gullar?

Quanto ao último post, devo alguns comentários e explicações. Antes, o comentário: quero agradecer a todos pelos comments. Fazia tempo eu vinha me sentindo abandonado pelos meus leitores.

Explicações: não quis dizer que a crônica acabou. Não. Acho que ela está minguando das páginas. Acho que ela, lamentavelmente, vai acabar.

Mas tudo bem. Tudo passa, tudo acaba, tudo morre. Até o Orlando Villas-Boas. Vai deixar saudades. Se tiverem a oportunidade, encontrem algo dele para ler. Ele sabia escrever muito bem!

Crônica metalingüística

Dia desses, lá estou eu, sentado numa mesa do Bistrô do Paço, onde gosto de passar meus fins de tarde com a minha namorada, eis que surge Carol. A mesma que está "linkada" aí do lado. A mesma que é minha amiga há mais tempo do que contam os anos. Ela trabalha ali. Então, é comum nós três tomarmos um chocolate juntos. Poucas coisas são tão boas quanto dividir a mesa com duas mulheres. Ok, alguns dirão que dividir a cama, mas a minha namorada lê este blog e eu tenho que me comportar.

Bem, voltando ao tal dia, Carol me fala uma daquelas frases que só ela consegue elaborar: "tem gente que escreve como fala [e fez uma careta meio blasé]. Você é o oposto: fala como escreve. E eu gosto da maneira como você escreve". Não fosse este último complemento, eu estaria até agora tentando entender a frase. Ainda acho que ela me chamou de antiquado, mas vou tocando...

Ontem, eu estava conversando com uma amiga capixaba. Ela vai escrever um livro. É a Renata, que também está "linkada" aí na lateral. E vem me cobrar: "quando você vai publicar essas coisas que você bloga?" Ela gosta de ler crônicas e o meu blog é um reduto de crônicas. Eu gosto desse estilo. Rápido, dinâmico e desinteressado interessante de escrever. Acho que tem tudo a ver com a nova comunicação. Nada de longos romances. Curtas crônicas.

Essas conversas me levara a duas constatações. Em primeiro lugar, como as crônicas sumiram do mercado. Não se vê mais um relato curto do quotidiano como se via antigamente. Nas revistas, jornais, internet, o que se vê são comentários sobre a última arbitrariedade do governo Bush, o vexame internacional da América Latina, os extertores do governo FHC e as enrolações do de Lula. Nada mais daquele Amor por entre o Verde, do Vinícius de Moraes. Não se permite mais que alguém Escolha seu Sonho, como Cecília Meireles.

Os livros de crônicas encontrados nas prateleiras são bem aventuradas reedições do passado. O último grande cronista está comemorando 100 anos este ano e ganhou estátua na praia. Isso leva a uma segunda reflexão: será a crônica um estilo morto? Fadado à memória tacanha das aulas de Literatura Brasileira do segundo grau? Nada de errado nisso. É para isso que é um estilo. Eles vêm e vão. Como escrever sonetos virou coisa do passado. Por que razão morreria a crônica?

Acho que a resposta está no início desta crônica, aqui. É um estilo rápido, fácil, raso. Perfeitamente antenado com a contemporaneidade. Uma contemporaneidade rasa, fácil, rápida, quase sem estilo. Qualquer um que aprecie boa leitura prefere fugir da mesmície dos jornais. Todos viramos contestadores e rendemos loas aos longos romances. Aos mais curtos, mas densos contos.

Não importa. O importante é ler.

terça-feira, 10 de dezembro de 2002

Arte de amar
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
(Manuel Bandeira)


Friozim bom prum início de verão, né não?