quinta-feira, 24 de outubro de 2002

Paisagem suburbana

Às vezes, me dou conta de que sou suburbano. A Estela gosta de dizer que eu sou suburbano, porque moro bem do lado de uma linha de trem. Eu moro nas imediações da Praça da Bandeira e o trem da Leopoldina passa aqui do lado. Ela trabalha na Procuradoria Geral do Município e deve entender dessas coisas. Diz ela que subúrbio é só aquilo que é perto da linha do trem. E a Tijuca? Não é subúrbio? E lá onde ela mora, em Jacarepaguá, que tem cavalo comedor de ebó? Aquilo, nas palavras dela, é outra coisa: é roça...

Mas, voltando à minha vidinha, sempre fui feliz por ser suburbano. Tem coisas que só acontecem por aqui. Uma delícia ficar subindo em árvore, brincando na rua. Pintar a rua em época de copa do mundo é coisa que só dá no subúrbio! Ou festa junina de fechar a rua. Isso é vida de subúrbio. Isso faz parte da minha infância. Faz parte do que eu sou, agora. Acho que influencia até a minha maneira de pensar, de ver a vida e as pessoas.

Gosto de acordar num domingo cinzento, atraversar o jardim do meu edifício e buscar a revista na caixa de correio. Minha rua é de paralelepípedo e em frente ao prédio tem o muro cinza de uma casa. De manhã, quase ninguém na rua. Tem um certo ar de desolação. Mas é poderosamente poético. É como estar em outro lugar, num outro tempo. Um tempo que passa mais devagar, com mais mansidão. O dia parece seguir todo mais calmo, depois disso. Até o pagode, o churrasco, a barulheira do vizinho parece ter uma certa graça.

Aí, eu gosto de atravessar o verde da Quinta da Boa Vista e ir visitar meu pai, que mora em São Cristóvão. Lá não tem trem. De repente, lá não é subúrbio. Então, por que tem criança em cima de carrinho de rolimã descendo a ladeira? Por que tem gente jogando futebol no asfalto, fazendo o portão da garagem de gol? E o vizinho do meu pai, que parece ouvir a mesma rádio que o meu. Isso é gostoso como dormir abraçado.

Deve ser porque eu nasci na Tijuca. Sou tijucano e tijucano é uma raça engraçada. É o único bairro do Rio de Janeiro que tem naturalidade. Ninguém é copacabanano, ipanemense, barrista. Botafoguense é só torcedor de um time caidinho, flamenguista, que adora dizer que faz parte de uma nação, é outra raça que só existe em torno do futebol. Ninguém é como tijucano. Somos uma raça estranha. Mas não somos suburbanos. Fazer o quê?

Ainda bem que saí da Tijuca. Ainda bem que vim morar na Praça da Bandeira. Só aqui eu posso me sentir suburbano.

terça-feira, 22 de outubro de 2002

Enquanto tento, desesperadamente, ajeitar os links aí do lado, percebi: só quem tem blog é mulher, né? Já vi que isso é coisa de frutinha, igual ter gato como bicho de estimação. Cruzes! O pior é que eu não largo essa cachaça.

Para esclarecer a todos que ficaram chocados com a minha declaração de ontem, não, eu não estava triste. Menos ainda rolou sexo. Foi um dia longo. Meu irmão que surtou pareceu estar voltando ao normal, dei aula, fui ao teatro, prestigiar a esquete de um amigo meu. Aliás, ótimo trabalho. O calor era insuportável.

Cheguei em casa e me deparei com a "obrigação" de escrever no blog. Coisas de blogueiro. Tem obrigação nenhuma. Mas fiquei olhando aqui, para a tela de edição, como se precisasse escrever algo. E pus aquela frase de cunho lapidar. Simplesmente porque estava foda pensar em qualquer coisa para escrever.

Simples como isso. Não precisam ficar tentando me consolar, ou me parabenizar. Eu ando muito feliz, desde o último fim de semana. Ainda assim, sexo não faz parte dos eventos que têm me deixado feliz. De todo jeito, thanx a lot!

Tem dias que a noite é foda...

domingo, 20 de outubro de 2002

Já foi Sinatra. Agora, Tony Bennett. Mas eu amo essa música!

The way you look tonight

Someday when I'm awfully low
When the world is cold
I will feel a glow
Just thinking of you
And the way you look tonight

O but you're lovely
With your smile so warm
And your cheeks so soft
There is nothing for me, but to love you
Just the way you look tonight

With each word, your tenderness grows
Tearing my fear apart
And that laugh that wrinkles your nose
Touches my foolish heart

Lovely never never change
Keep that breathless charm
Won't you please arrange it
Cause I love you
Just the way you look tonight

Situação marcante deste fim de semana: estou eu, cercado de duas lindas moças no tradicional Bar Luiz, quando um casal vem se sentar na mesa do lado. Os dois pareciam ser clientes do lugar faz muuuuuuiiiiiito tempo. Aposto que devem freqüentar há uns 50 anos, no barato! Ouvimos o diálogo:

ELE: qual é mesmo o ouvido bom?
ELA: esse aqui.
ELE: ah, então senta do lado de cá.

Queria ser romântico a esse ponto!