segunda-feira, 26 de abril de 2004

Silêncio mental.

Alarme falso. A conjuntivite passou e eu passei o feriado em Cabo Frio, sob os auspícios dos meus sogros e enfiando cabeça na água.

Estranho, mas gosto disso.

quinta-feira, 22 de abril de 2004

Legal. Feriado no Rio, minha namorada em Cabo Frio e eu arrumei uma conjuntivite. Tive a semana inteira, mas escolhi pegar no feriado.

Tem dias em que eu me odeio.

quarta-feira, 31 de março de 2004

Refúgios

Ontem eu fui dar aula de violão em Laranjeiras. Adoro aquele bairro. Gosto do meu aluno porque ele me mantém estudando e porque ele me faz andar por lá. Saltei do metrô na estação Largo do Machado. Era cedo demais para ir direto para a casa dele e eu não sabia o que fazer. Lembrei do Parque Guinle e me sentei por lá. Fui ver as crianças brincando e ler meu livro.

Tinha duas francesas por lá, que moravam ali atrás. Como todas as francesas do mundo, cada uma era carregada por um cachorro. O cachorro mais novo conseguiu escapar e começou a correr por todo o parque, latindo. Uma criança que se solta, mesmo. Não tardou para toda a criançada correr atrás dele e brincar. Correram até cansar (o bicho). Depois foram jogar pedra no laguinho.

Hoje, fui mais cedo para a terapia, em Copacabana. Sentei num banco no calçadão. Peguei meu livro e li, sentado ali. Fiquei olhando o mar e folheando as páginas. O sol se pôs apoteoticamente, como no outono. As crianças jogavam futebol na areia e um enorme cargueiro passava ao longe. Parecia não mover as águas.

O Rio tem esses refúgios. São lugares para onde se pode fugir no meio da correria do dia. Eles ficam a 20 metros do asfalto, a 20 metros do monóxido de carbono, a 20 metros de uma excelente livraria. São refúgios fantásticos, onde você pode se esconder à plena visão.

Estou lendo um livro sobre Joe Gould, um boêmio da NY dos anos 30 a 40. Muito interessante. Esse livro foi escrito por um jornalista. Na verdade, não deveria ser um livro, apenas dois artigos publicados na revista (ou jornal, não lembro ao certo) The New Yorker. O livro virou filme: O Segredo de Joe Gould, nome do segundo artigo. O primeiro artigo é Professor Gaivota. Péssima tradução, mas não vejo alternativa. Faz referência/rima ao nome do próprio personagem-título (gaivota em inglês é seagull) e serve de prenúncio a algo que se explica no texto: o homem era a maior autoridade no mundo sobre o idioma das gaivotas.

O livro é bom: leve, narrativa jornalística. Passa fácil, feito limonada em dia quente. A história é verídica e o jornalista, como narra no segundo artigo, acabou ficando amigo do tal Joe Gould. Tanto assim que começou a receber a correspondência dele no próprio escritório. Ele conta que, logo depois de publicado o primeiro artigo, choveram cartas endereçadas a Joe Gould na redação. A descrição de uma delas me chamou a atenção. "Estava escrita a lápis, em papel pautado..."

Há quanto tempo eu escrevi minha última carta a alguém a mão? Não me lembro. Muita coisa se diz só com o papel, o meio de escrita e a caligrafia. Eu não tenho mais caligrafia. Eu escrevo em arial, times new roman, verdana... Minha letra não existe mais. Ninguém mais recebe cartas minhas em folha arrancada do caderno, ou em papéis pergaminho, comprados a peso de ouro em papelaria. Todo mundo recebe meus e-mails.

E-mail não tem borrão de tinta, nem mancha de impressão digital. Não tem rabisco que a caneta fez, sem querer. Não deixa identificar o grau de intimidade dos correspondentes. E-mail é prático, rápido e eficiente. Precisa mais?

Eu ainda tenho as cartas que a Carol me escrevia de Londres, dez anos atrás. Tenho cartas que trocava com uma outra menina em Surrey, Sandra Waas. Os papéis eram diferentes. Carol era (ainda é) amiga próxima. A letra era meio corrida, dava para ver a pressa, por que tinha que escrever para outras pessoas. O papel era o que tivesse: caderno, ofício, tem uma que é batida no computador, outra com aquele círculo de lágrima.

A Sandra era mais distante. Uma pen friend, daqueles que existiam quando existiam cartas. As dela eram em papel com marca d'água. Delicadas e com letras cuidadosas. Sempre em tinta preta (tenho cartas com diversos tipos de tinta e a lápis, da Carol). Os papéis tinham texturas diferentes.

A carta já dizia quem era o remetente. Pelo remetente, era possível adivinhar o destinatário. Pelo menos, era possível saber o lugar do destinatário na cabeça e coração do remetente. Isso não se vê mais, entre as arrobas e os pontocom. Esse mundo mudou, está mais prático e eficiente. Odeio quem fez meu mundo prático e eficiente!

sexta-feira, 19 de março de 2004

Qdo eu trabalhava na ConnAction, nós tínhamos um vídeo com um texto maravilhoso. A Renata, linkada ao lado, participou de um dos nossos workshops e conseguiu o texto. Ela postou no blog dela, mas eu tive que roubar. Tá indicada a fonte, viu?

Recentemente, o Pedro Mial, repórter, gato e amigo de ocasião do Cazuza, traduziu e musicou o texto. Virou o hit Filtro Solar.

Wear sunscreen.
If I could offer you only one tip for the future, sunscreen would be it. The long-term benefits of sunscreen have been proved by scientists, whereas the rest of my advice has no basis more reliable than my own meandering experience. I will dispense this advice now. Enjoy the power and beauty of your youth. Oh, never mind. You will not understand the power and beauty of your youth until they've faded. But trust me, in 20 years, you'll look back at photos of yourself and recall in a way you can't grasp now how much possibility lay before you and how fabulous you really looked. You are not as fat as you imagine. Don't worry about the future. Or worry, but know that worrying is as effective as trying to solve an algebra equation by chewing bubble gum. The real troubles in your life are apt to be things that never crossed your worried mind, the kind that blindside you at 4 p.m. on some idle Tuesday. Do one thing every day that scares you. Sing. Don't be reckless with other people's hearts. Don't put up with people who are reckless with yours. Floss. Don't waste your time on jealousy. Sometimes you're ahead, sometimes you're behind. The race is long and, in the end, it's only with yourself. Remember compliments you receive. Forget the insults. If you succeed in doing this, tell me how. Keep your old love letters. Throw away your old bank statements. Stretch. Don't feel guilty if you don't know what you want to do with your life. The most interesting people I know didn't know at 22 what they wanted to do with their lives. Some of the most interesting 40-year-olds I know still don't. Get plenty of calcium. Be kind to your knees. You'll miss them when they're gone. Maybe you'll marry, maybe you won't. Maybe you'll have children, maybe you won't. Maybe you'll divorce at 40, maybe you'll dance the funky chicken on your 75th wedding anniversary. Whatever you do, don't congratulate yourself too much, or berate yourself either. Your choices are half chance. So are everybody else's. Enjoy your body. Use it every way you can. Don't be afraid of it or of what other people think of it. It's the greatest instrument you'll ever own. Dance, even if you have nowhere to do it but your living room. Read the directions, even if you don't follow them. Do not read beauty magazines. They will only make you feel ugly. Get to know your parents. You never know when they'll be gone for good. Be nice to your siblings. They're your best link to your past and the people most likely to stick with you in the future. Understand that friends come and go, but with a precious few you should hold on. Work hard to bridge the gaps in geography and lifestyle, because the older you get, the more you need the people who knew you when you were young. Live in New York City once, but leave before it makes you hard. Live in Northern California once, but leave before it makes you soft. Travel. Accept certain inalienable truths: Prices will rise. Politicians will philander. You, too, will get old. And when you do, you'll fantasize that when you were young, prices were reasonable, politicians were noble and children respected their elders. Respect your elders. Don't expect anyone else to support you. Maybe you have a trust fund. Maybe you'll have a wealthy spouse. But you never know when either one might run out. Don't mess too much with your hair or by the time you're 40 it will look 85. Be careful whose advice you buy, but be patient with those who supply it. Advice is a form of nostalgia. Dispensing it is a way of fishing the past from the disposal, wiping it off, painting over the ugly parts and recycling it for more than it's worth.
But trust me on the sunscreen.

Ah, sim, imitando a Carol, estive revisitando meu refúgio de adolescência. Fui a Petrópolis e encontrei um velho amigo. Ao bater na porta, ele perguntou quem era e eu respondi "seu passado!"

Fomos dar uma volta e fumar um charuto. Lembramos de quando fazíamos bobagens e violência gratuita. Como eu era violento! E vimos como nós mudamos, crescemos. Quanto mais muda, mais é o mesmo. Curioso.

Foi como voltar para casa depois de anos numa campanha distante.

Exercício de vida

Feche os olhos por apenas 5 segundos. Pense num dia cinza e numa florzinha miúda, cor-de-rosa com o pólen amarelo. Inspire e expire.

Abra os olhos. É você!

A bem da verdade, tenho sentido falta de postar. Por outro lado, também tenho falta de sentido em muitas outras coisas.

Que bom que a terapia já está no fim.

Este post é só para fazer o Quintino me atualizar no blog dele.

Ele é carente e sente minha falta. Gosta quando eu falo mal dele... Aliás, não tem como falar bem, né? O sujeito é pefelista, tefepelista, gordo e vesgo. Sem contar as quizumbas que ele arruma nos motéis!!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

Aliás, desculpe a ausência, Carol, mas feliz aniversário. Foi realmente impossível chegar...

Hoje, um artigo meu foi publicado na Gazeta Mercantil.

Bom.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004

De repente me veio um sentimento de "sou contra toda essa coisa que taí"...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

A garçonete do café onde costumo passar o fim do dia veio falar comigo sobre pena de morte. Eu devo atrair garçons que falam. Na última sexta, um garçom veio chorar a traição da mulher com o seu melhor amigo. Quase cantei a música do Reginaldo Rossi: "freguês, aqui nessa mesa de bar, você já cansou de escutar..." Mas ela veio falar de coisa séria e de um assunto que eu gosto. Veio perguntar se eu concordava.

Como eterno defensor de direitos humanos, eu me posicionei contra. O argumento dela foi o mais recorrente e o mais fácil de rechaçar: "e se a sua filha fosse estrupada? O que você faria?" E ela teve que ir atender alguém antes da minha resposta. E ela voltou para me contar uma história. Ela mora na Nova Holanda, uma das favelas mais perigosas do Rio. Disse que em frente à casa onde mora, um sujeito foi executado pelos traficantes. Ela ficou chocada com a cena. Não quer que sua filha veja essas coisas.

Ela não sabe, mas ela é contra a pena de morte!

terça-feira, 27 de janeiro de 2004

Se alguém visitar o site do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados - ACNUR, vai poder ver o diário da Angelina Jolie e sua experiência com os refugiados. Para quem não sabe, ela é a embaixadora da boa vontade dessa agência da ONU.

No diário, ela fala, entre outras coisas, da morte do Sérgio Vieira de Mello, que serviu o ACNUR por muitos anos, antes de se tornar Alto Comissário para Direitos Humanos. Por que, diabos, eu fico fuxicando essas coisas?

Quintino se entrevistou para o próprio jornal. Acho que é hora de aumentarem as doses de Haldol do garoto!

Lamentável, lamentável.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

Já saiu a primeira mulher do BBB4. Ainda dá tempo para as fotos!

Queremos nudez gratuita!!!

terça-feira, 13 de janeiro de 2004

Fui ver As Duas Torres, versão extendida, com 41 minutos a mais de um filme que já tem 3 horas, na versão "compacta".

Eu não sabia que era possível prender a respiração por mais 41 minutos!!

Céus! Estou virando nerd. Qualquer dia começo a fazer piada feito o Quintino!!!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2004

Está aberta a temporada de escolha de uma nova citação. Quem tiver sugestões, envie. Não serão aceitas as citações com acentos gráficos. A razão é simples: eu não sei usá-los no template. Aliás, se alguém souber, também pode informar.

Como a maioria de vocês já deve saber, o reveillon foi na Ilha Grande, meu refúgio. O lugar, como vocês já devem saber, é mágico. Se não conhecem, deveriam. Sempre tem gente interessante e os campings ficam repletos de harmonia.

Acho que conheci uma figura mitológica por lá: um homem apaixonado. Deve ser o último de uma raça inteira. Era triste como uma fotografia em preto e branco e a voz, que saia debaixo de uma barba grisalha, parecia ecoar no fundo da cabeça, sem passar pelos ouvidos. Faz tempo não vejo ninguém assim. Só devem existir em São Paulo.

Ele se apaixonou pela dona do camping. Que idéia! Todo mundo sabe que não se tenta nada com a dona da festa. Ela está sempre ocupada demais. Assim, os “demônios da solidão” acharam um bom lugar para estacionar.

A chuva, sempre benvinda, acabou atrapalhando um pouco. É mais difícil manter os pés e a barraca limpos quando chove. Ainda assim, ficar lá dentro, ouvindo as gotas tamborilando no teto e sentindo o friozinho que faz é uma delícia. É a oportunidade que se tem de sentir o mundo girando. E como gira!

Os dias passam devagar e rápido, ao mesmo tempo. O tempo leva o tempo que precisa levar e isso é incrível. Já ouvi dizer que Deus dá o frio de acordo com o cobertor e parece verdade. Lá eu aprendi isso.

Na volta, essa fumaça concreta nubla a minha visão.

O bangalô fica na nossa cabeça.