sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

Pedro vai cortar o cabelo

Esbaforido, eu passo em frente a um salão e vejo que ele está 25% mais barato que os outros em volta. Meu cabelo é ruim, então o corte também pode ser ruim, certo? Acontece que eu estava morrendo de pressa. Então, entro e peço para reservar um horário. A atendente responde que tem como fazer na hora. "Mesmo? Eu tenho que estar livre em meia hora", eu me certifico. "Claro, senhor", é a resposta.

Lá vou eu. Sento numa das cadeiras e espero vir o sujeito que vai encurtar meus pelos. É uma loiraça, de 1,80m de altura. Olha para mim e diz para acompanhá-la, para lavar o cabelo. Eu tremi nas bases. Eu sempre durmo nessa parte. Mexer na minha cabeça é me fazer dormir. Eu já dormi com um negão 3x4 lavando meu cabelo no salão ali do lado. Já até dormi na cadeira do dentista! Sim, mexer em q.u.a.l.q.u.e.r parte da minha cabeça me dá sono. Imagina se fosse aquela loira. O que ela ia pensar de mim? Eu tenho namorada, ora!

Aliás, assim que bati os olhos nela, percebi que tínhamos algo em comum: as raízes negras. E lá deitei eu naquela espécie de pia que eles têm nos salões. "Água fria, morna ou quente?". Naquele calorão, sempre gelada! É bom, que refresca a cabeça e as idéias. Vai molhando o cabelo. Ela enche a mão de xampu e começa a passar pela minha cabeça. Que tristeza. O pior cafuné do planeta. Acho que ela não gostava de cabelo, sei lá. Sei que foi a primeira vez na vida em que eu nem bocejei lavando a cabeça. Sim, eu bocejo até quando sou eu mesmo lavando a minha cabeça.

Já não se fazem mais loiraças como antigamente. Inda bem que eu tenho a minha morena. Aquilo sim é cafuné.

Importante lembrar: se você gosta de algum dos posts, se não gosta, se discorda, se concorda, se nada, muito pelo contrário, se você é apático, se é simpático, antipático, ou hepático, se acha que sim, se acha que não, se acha que depende, ou não acha, se isso, se aquilo,

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Ao Villas-Boas

Quem me conheceu no início do curso de Direito, sabia que o que eu mais queria fazer, naquela época, era diplomacia. Por causa dessa intenção, eu conheci uns nomes desde cedo. Esta semana, dois desses nomes partiram para o Oriente Eterno. Um foi Evandro Lins e Silva, antecedido por Orlando Villas-Boas. Ambos tinham muito a ensinar ao mundo da diplomacia. Curiosamente, cada um em um ângulo simetricamente oposto ao outro.

Os que me conhecem atualmente, sabem que eu sou um estudante de Direito muito relapso. Então, não vou fingir que estou mais comovido com Lins e Silva que com Villas-Boas. Quem quiser saber mais sobre Lins e Silva, pode ler um interessantíssimo artigo no blog da Estela. Eu sinto muito mais saudades de Orlando Villas-Boas.

Orlando e seu irmão, Claudio, decidiram lançar os braços da diplomacia para um país muito mais interessante do que qualquer outro: aquele onde nasceram. Decidiram lançar-se ao interior, buscando comunicação com gente que não falava nenhum idioma conhecido nas geografias de Henfil: o sulmaravilha e a Caatinga. Ou algum leitor saber responder à pergunta: nhe'enga Tupi? Pois eles sabiam. E decidiram aprender muito mais do que isso.

Decidiram levar aos povos isolados do Mato Grosso e da Amazônia as comodidades do mundo branco. Decidiram trazer aos mundo branco o universo que existia em sua própria esquina. Uma tarefa nada simples.

Tempos atrás, eu iniciei uma difícil pesquisa sobre a mitologia indígena brasileira pré-cabrália. Precisei de um livro de Orlando Villas-Boas. Fiquei maravilhado com a escrita. Ele possuía um estilo muito próprio. Era erudito, ao mesmo tempo que claro. Inteligente, ao mesmo tempo que direto. Não era redação de quem havia vivido a vida inteira no mato, comendo cobras com os nativos. Nem era literatura acadêmica, de quem havia passado a vida inteira trancado numa biblioteca, vendo índios pelas fotos do Mal. Rondon. Não. Era linguagem de quem tinha que se comunicar, a todo custo.

Recomendo a todos os meus leitores algum livro de Orlando Villas-Boas. Quem quer que queira saber o que é comunicação deve saber escrever e falar como ele. Esqueçam Chatô, nem pensem em Abelardo Barbosa. O maior comunicador que já pude encontrar faleceu faz menos tempo que isso. E também o grande diplomata. Não vejo glória maior que estabelecer embaixadas onde ninguém faz comércio, onde não há interesse no lucro. Só no Brasil.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

Então, eu não posso me dar uma semana de namorico e folga que a trupe vem pedir para eu voltar a escrever? O que é isso? Estão querendo encher a minha bola! Tem até gente da caatinga me mandando e-mail, cobrando notícias. Tem gente do sulmaravilha que veio dizer que o meu blog era o mais inteligente de um oceano. Claro! Peixe não bloga! E a razão para isso é simples: eles não têm polegares opositores. Se tivessem, garanto que qualquer celacanto teria mais a dizer que eu.

Vai ver se eu tenho blog com nome em latim; vai ver se eu escrevo estrelismos por aí. Ou se sou um poeta, co-autor do meu próprio blog. Que nada. Isso não acontece por aqui. Sou só um cara que decide escrever esporadicamente. Só se der na telha. Ainda se tivesse coisa inteligente a dizer...

Então, turma, não desanimem. Sejam pacientes. Sempre que eu tiver uma dor de cabeça e disso surgir algo brilhante, eu escrevo!

Dica da semana: sua coluna será muito mais sua amiga se você não tirar a sesta no ônibus.