quarta-feira, 30 de outubro de 2002

Um Milton pouco conhecido.

Lua Girou
(Milton Nascimento)

A lua girou, girou
Traçou no céu um compasso
A lua girou, girou
Traçou no céu um compasso
Eu bem queria fazer
Um travesseiro dos seus braços
Eu bem queria fazer

Um travesseiro dos seus meus braços
Só não faz se não quiser
Um travesseiro dos meus braços
Só não faz se não quiser
Sustenta a palavra de homem
Que eu mantenho a de mulher
Sustenta a palavra de homem

terça-feira, 29 de outubro de 2002

Questões imponderáveis

Por que todos os motoristas de ônibus do Rio de Janeiro são loucos?

Gosto de Chico Buarque porque ele explica todas as complexidades dos meus sentimentos. Gosto de Geraldo Azevedo porque ele simplifica essas complexidades.

PARCEIRO DAS DELÍCIAS

Amor,
Vem me tirar a sede
Amor,
Vem me tirar da rede
Amor,
Nem que seja das intrigas.

Amor,
Vem me tirar o cinto
Amor,
Vem me tirar a pele
Amor,
Nem que seja sem malícia

Vem me tirar,
Vem me botar na vida.
Vem me tirar,
Às vezes pra dançar
Até me machucar, amor

Vem reviver a sede,
Me botar na rede
Vem me fazer aquele amor
Parceiro das delícias, amor.

Geraldo Azevedo.

Clareou.

Ontem foi a data do início do meu inferno astral. Não tinha reparado.

Começa a esfriar. Talvez o tempo vire. Não sei. Têm sido dias estranhos: as nuvens se formam sobre as montanhas da Floresta da Tijuca, mas se dissipam. Aí, vem o Sol e o calor. Eu nunca fui muito afeito a essas temperaturas. Acho que não nasci para isso. Não nasci para suar na rua. Não sei se isso é ser esnobe da minha parte, só sei que não gosto. Não acho saudável.

Esta noite está silenciosa. Isso é estranho. Em geral, os vizinhos fazem barulho, os morcegos sissiam na mangueira aqui, atrás, carros cantam pneus ao longe. Esta noite está estranha. Um ar de desalento, de desolação. O silêncio faz uma música calma preencher o ar. Um adagio de cordas, talvez. Ou eu sou maluco de ouvir música no silêncio, mesmo. Não me surpreenderia.

Estou esquisito, hoje. Tanto quanto esta noite. O coração apertado, os pensamentos amuados. Talvez o clima tenha algum impacto. Neste exato momento, tudo o que eu precisava era do meu violão e uma rede. Deixaria essas considerações fluírem pelas cordas, madrugada adentro. Assim, não estava aqui, aborrencendo qualquer leitor incauto. Quero deixar chegar amanhã. Em geral, a aurora traz novidades.

Tem dias de lua.

domingo, 27 de outubro de 2002

Ontem eu tive uma apresentação de música e dança flamenca. Que desespero! Aconteceu mais ou menos assim: quarta à noite uma amiga me liga e diz: "Pedro, tenho uma apresentação para fazer no próximo sábado. Sou eu e mais 3 meninas. Eu poderia usar CD, mas prefirimos ter música ao vivo. Topas?" Eu, doente que sou, topei. Nunca fiz nada disso antes, mas topei. "Quando vão ser os ensaios?" A resposta dela foi imediata: "sábado à tarde".

Preciso dizer que enlouqueci? Quem não me conhece, não sabe, mas a única coisa com a qual eu sou perfeccionista é a música. Peguei uma fita do Paco de Lucia do meu pai e comecei a ouvir, em looping, entrei em diversos sites da internet espanhola, buscando técnicas de rasgueio, estudei partituras e partituras... Ontem, fui dar aulas, participei de ensaios fotográficos para o site da ConnAction, que está linkado aí do lado, e fomos ensaiar. Pânico total.

No fim das contas, o ensaio ficou mais ou menos. Eu consegui entender a coreografia e compus uma harmonia que preenchesse a dança. Quando nós fomos a Niterói, onde foi o envento, eu tirei um tempinho para me concentrar e estudar um pouco mais. Fico muito tenso nessas horas. Peguei meu violão e, súbito, fiz uma harmonia que dava de 10 na anterior. Ficou muito boa. Parecia que eu tinha entendido a linguagem da música flamenca. Apresentamos o espetáculo. Abri, tocando Astúrias, de Albeniz. O público adorou, as meninas confirmaram minha sensação de que tinha sido melhor que nos ensaios, uma delas percebeu que eu fiz uma coisa nova com o violão.

Eu, crítico como sou comigo mesmo, achei bacaninha. Não mais que isso. Mas isso é normal. Quando a gente se apresenta, o resultado é sempre 20% menor do que o esperado. Se ficar abaixo disso, a coisa fica perigosa. Mas o meu conceito foi esse mesmo, então fica tudo bem. Para completar, depois que eu saí do palco, vem um mané perguntar por que eu toquei Spanish Caravan, do The Doors. Cai na real! Vai entender de música, meu filho. Some-se a isso que eu acho Jim Morrison um saco!

Mas este post não é sobre isso. Este post é sobre como um público pode aplaudir você (tinha gente até de pé) e você sentir falta de um par de mãos, apenas. Minha namorada não estava lá. Não conseguiu ir. Eu sei que não deu, nós conversamos antes. Já sabia que não ia ter como. Mas fez falta. Queria muito ter estado com ela. Ontem eu percebi como uma só pessoa pode fazer falta.

Segundo Turno

Lá vou eu votar. No primeiro turno, pela primeira vez na minha vida, peguei fila na minha seção. Como bom suburbano (ver post anterior), voto numa escola pública e feia. Para evitar ter que conversar com a mesma menina nojenta da fila da última vez, levei minha Super Interessante para ler. Lá chegando, que desolação. Os mesários olhando pro chão, ou pro jornal. Tinha gente bocejando. Ninguém, repito: ninguém, votando. Em passos lentos, fui até a mesa para entregar o título (sim, porque eu sou um daqueles doentes que não usam a carteira de identidade para votar. Aliás, ela ficou em casa). A mocinha até se animou e se aprumou na cadeira. Fez uma expressão alegre de "agora tem trabalho".

Votei. A fotinha do Lula deu desgosto. Aquele sorriso bonachão. Quem já viu Papai Noel petista? Pois é. Quase que desisto e voto no Serra, só porque ele anda mais feio e abatido. Mas o resultado mais importante: não li a minha revista. Que saco. Só serviu para pensar em que blogar, quando chegasse em casa. Nem deu para divagar sobre democracia e política, como eu fiz da última vez. Quem é novo no meu blog, é só procurar, na data da última eleição.